Geopolítica é o tema abordados em um dos capítulos do livro que será lançado em Brasília, no dia 31 de maio de 2023, no auditório do térreo do Ministério do planejamento, a partir das 14:30.
As transformações na geopolítica global resultarão em um mundo completamente diferente em 2040. Os velhos problemas que retornam ao centro das preocupações geopolíticas, como a guerra interestatal, e os novos problemas que não são totalmente compreensíveis, como as aplicações militares da inteligência artificial, provocarão inúmeros choques de futuro e desafiarão a capacidade de adaptação de atores públicos e privados. Para melhor compreender os desafios, o presente capítulo identifica 60 sementes de futuro, sendo 35 tendências e 25 incertezas críticas, que afetarão a geopolítica nos próximos anos. Essas sementes estão agrupadas em torno de três temas mais abrangentes – governança global, rebalanço de poder na ordem internacional e conflitos armados – e um mais específico e de particular interesse do Brasil – entorno estratégico brasileiro. Os temas da dimensão geopolítica são transversais e acarretam riscos e oportunidades multifacetados para o governo brasileiro, os quais deverão ser considerados no planejamento estratégico nacional.
Apresenta-se, a seguir, as perguntas feitas aos autores do capítulo, Giovanni Hideki Chinaglia Okado e Marcos Aurélio Santiago Françozo
SocialPort – Em relação ao tema geopolítica, objeto do seu estudo e segundo a sua opinião, quais os principais eventos que poderão causar os maiores impactos para o desenvolvimento do Brasil?
Segundo os autores, a atual crise da governança global e a multipolaridade da ordem internacional proporcionarão condições reais para as potências emergentes e regionais, individual ou coletivamente, exercerem a liderança em temas universais negligenciados pelas grandes potências, como questões relativas ao desenvolvimento, de interesse para o Brasil. Ainda assim, essas potências continuarão dominando tecnologias sensíveis – inclusive militares –, estarão em vantagem na competição pelos domínios públicos internacionais (por exemplo, Ártico e espaço sideral) e poderão aumentar a projeção de poder no entorno estratégico brasileiro. Já os conflitos armados futuros serão, predominantemente, de caráter híbrido, figurando em uma zona cinzenta entre a guerra e paz e alcançando múltiplas dimensões (físicas ou virtuais). Assim, mesmo que o Brasil permaneça distante dos principais focos de tensão mundial, poderá ser alvo de pretensões internacionais relacionadas com recursos naturais e, devido ao caráter ubíquo da guerra, estar envolvido em um conflito sem que a população ou o governo tenham consciência disso. Por fim, não obstante se reconheça que a cooperação será a melhor maneira de enfrentar os eventos futuros na dimensão geopolítica, ela será cada vez mais difícil de ser alcançada em nível global, de modo que os problemas comuns à humanidade, como as mudanças climáticas e as crises humanitárias, poderão gerar consequências irreversíveis e catastróficas.
SocialPort – Em relação a esses eventos, quais seriam esses impactos?
Para os autores, a crise da governança global e a multipolaridade dificultarão ainda mais a cooperação em larga escala nos próximos anos, principalmente entre grandes potências, e ampliarão as oportunidades para a resolução de problemas em níveis regionais, com maior chance de protagonismo para potências emergentes ou médias. Assim, o Brasil poderá conquistar novos espaços de poder na política internacional e buscar os próprios interesses, principalmente na área do desenvolvimento, com ênfase na cooperação Sul-Sul. Há, no entanto, outras áreas em que o país poderá permanecer marginalizado, particularmente no que se refere à tecnologia espacial, inteligência artificial, robótica etc., incluindo suas aplicações militares, se não acompanhar os progressos em andamento. A marginalização não se apresentará como um risco apenas à autonomia tecnológica brasileira, senão também às capacidades militares e ao desenvolvimento nacional. Além disso, o aumento da projeção de poder das grandes potências no entorno estratégico brasileiro exigirá do governo maior atenção na formulação das políticas de defesa, assim como o aprofundamento das iniciativas de cooperação regional na área.
SocialPort – Para vocês, qual a relevância da participação em projetos desta natureza?
Para Giovanni Okado e Marcos Françozo, a incerteza é cada vez maior em relação à velocidade e à intensidade das transformações na geopolítica global. Ainda que se reconheça a dificuldade para antecipar eventos futuros, é necessário, no mínimo, refletir sobre eles no planejamento estratégico para se fazer melhores apostas e escolhas vencedoras. A reflexão é uma forma de se preparar e se adaptar a um mundo que deverá ser completamente diferente em 2040.
Giovanni Hideki Chinaglia Okado é Professor Assistente de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. É pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (GEPSI-Irel/UnB) e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Relações Internacionais da PUC Goiás.
Marcos Aurélio Santiago Françozo é analista de inteligência estratégica em temas relacionados à ciência, tecnologia e política na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). É pesquisador voluntário no Núcleo de Estudos Prospectivos da Universidade Católica de Brasília, trabalhando com estudos de futuro, geopolítica e foresight. Mestre, pela Universidade de Brasília (UnB), em Relações Internacionais, e mestre na Escola de Guerra Naval (EGN) da Marinha do Brasil, com foco em defesa, governança e segurança marítima.