Entrevista Dra. Elaine Marcial

A dinâmica populacional é o tema de um dos capítulos do livro Megatendências mundiais 2040, que será lançado no Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 2023, no Salão Nobre da Escola Superior de Guerra, no Rio de janeiro, a partir das 16:00.

Confira, a seguir, a entrevista exclusiva fornecida à SocialPort da autora do capítulo que abrange essa temática e organizadora desse livro. Na entrevista, a Dra. Elaine Marcial fala sobre os principais movimentos demográficos mundiais e seus impactos no Brasil.

SocialPort – Dra. Elaine Marcial, poderia nos falar um pouco sobre o capítulo de sua autoria “Dinâmica Populacional”?

Dra. Elaine Marcial – Em síntese, capítulo sobre “Dinâmica Populacional” apresenta os temas crescimento populacional mundial, envelhecimento da população mundial e movimentos migratórios. Ele mostra que a população mundial cresce a uma taxa marginal decrescente e que muitos dos países desenvolvidos não apresentam crescimento de sua população, além do aumento do número dos países que a população decresce.

A taxa de fecundidade no mundo está baixa e dentre os países desenvolvidos, somente os Estados Unidos ainda repõem sua população. Além disso, há um aumento da longevidade em todo o mundo que, em dois séculos, passou de 30 para 73 anos. É esperado que os centenários cheguem a 3,7 milhões de pessoas até 2050. Ou seja, a raça humana está envelhecendo e rápido, apresentando uma taxa de natalidade média em queda de 2,31 filhos, em 2022, se aproximando cada vez mais da taxa mínima de reposição que é de 2,1. Rompendo essa barreira, a raça humana pode entrar em processo de extinção.

Quanto aos movimentos migratórios, apesar de sua redução durante a pandemia do COVID-19, espera-se que retorne seu crescimento movido pela busca por novas oportunidades de trabalho, ou por fuga de países opressores, em guerra ou por mudanças climáticas severas.

SocialPort – Quais os maiores impactos para o desenvolvimento do Brasil relacionados às dinâmicas populacionais?

Dra. Elaine Marcial – O fenômeno do envelhecimento da população mundial também é um fenômeno brasileiro. Dados recentes apresentados pelo IBGE mostram que a taxa de natalidade no Brasil está caindo drasticamente, sendo que as projeções de aumento da população brasileira realizadas no passado pelo Instituto foram muito maiores do que as observadas. O Brasil já não repõe sua população a anos, apresentado uma taxa de natalidade de 1,65, em 2022.

Se em um país desenvolvido não repor sua população é um problema e muitos estão promovendo uma série de políticas públicas para reverter tal processo, no caso brasileiro esse é um problema muito maior. Os países desenvolvidos têm poupança interna, possuem uma população com um alto nível educacional e são foco de atração de pessoas por ter cidades que oferecem qualidade de vida além de oportunidades de emprego. Promover processos migratórios de cérebros e mão de obra qualificada, em especial jovem, é muito mais fácil para países desenvolvidos do que para o Brasil.

Veja que, no Brasil, esse fenômeno migratório já ocorre internamente. Cidades que apresentam dinamismo econômico e oferecem melhor qualidade de vida atraem migrantes internos apresentando melhores indicadores populacionais como é o caso de Santa Catarina e do Paraná.

A mudança do perfil demográfico brasileiro é um movimento muito sério com grandes impactos negativos tanto econômicos quanto sociais, que vão desde a desaceleração da economia a um colapso do sistema previdenciário. A inversão da pirâmide etária resulta em menor oferta de mão de obra e um crescimento do número de aposentados.

Da mesma forma que os países desenvolvidos têm lançado mão de políticas públicas para reversão desse fenômeno, o Brasil terá que promover e rápido tais movimento também. Para tanta, terá que desenvolver políticas de incentivo a natalidade e a imigração qualificada, abrindo as portas para a entrada de um perfil populacional desejado, tanto no que diz respeito a idade quanto a competências. Para o sucesso de tal investimento, será necessário a formulação de uma estratégia que conjugue ações de curto, médio e longo prazos.

Lembro que os movimentos demográficos são lentos e de difícil reversão e quanto mais cedo o país iniciar esse processo de reversão desse fenômeno melhor. Entretanto, torno a reforçar que há necessidade de planejamento para fazermos o movimento de forma correta e não atabalhoada, e pior, antes que seja tarde demais.

Conheça a autora

Elaine C. Marcial. Socia fundadora da SocialPort, é doutora em Ciência da Informação pela UnB. Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos Prospectivos da Universidade Católica de Brasília (NEP-UCB). É autora de livros e artigos na área de estudos de futuro. Coordenou projetos como Megatendências mundiais 2030 (SAE/PR), Brasil 2035 (IPEA), Bibliothinking 2050 (IPEA), Violência e Segurança Pública em 2023 (SAE/PR), Cenários Pós-COVID-19 (NEP-Mackenzie), Planejamento por cenários SIGA 2050 (Arquivo Nacional), Inovaelétrica 2040 (ANEEL) e Megatendências 2040 (NEP/UCB). Coordena o projeto Brasil 2040 (NEP/UCB) em parceria com a Assecor e participa como pesquisadora Sênior grupo de pesquisa Design de Jogos, Processo Decisório e Cenários Prospectivos, da EGN. Atua na área de prospectiva desde 1996 e foi agraciada com as medalhas Honra ao Mérito de Defesa, Ordem do Mérito Militar no grau de Cavaleiro e Medalha Exército Brasileiro.

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