Marcello José Pio fala sobre tecnologia, cenarização e sua perspectiva para o futuro

Uma observação do presente e futuro dos estudos estratégicos com o auxílio das ferramentas tecnológicas que vem se desenvolvendo a cada dia mais

Durante o evento Ciclo de Boas Práticas de prospectiva em Planejamento, a jornalista da SocialPort, Mariana Araujo, conversou com alguns dos presentes, sobre a importância da construção dos cenários e da tecnologia como ferramenta auxiliar dos estudos prospectivos. O entrevistado convidado é especialista em prospectiva do Observatório Nacional da Indústria e pesquisador sênior do Grupo de Pesquisa, Marcello José Pio.

Questionado sobre a importância da cenarização, Marcello afirma que hoje os cenários se tornaram essenciais para qualquer movimento e planejamento das instituições por conta do alto nível de incerteza existente no ambiente. “Os cenários são fundamentais, eu diria que é uma metodologia extremamente completa, de olhar para o futuro.”

Ele ainda fala do mundo VUCA (sigla em inglês, composta pela primeira letra das palavras: Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade)), e BANI, que se refere a um mundo frágil, ansioso, não linear e incompreensível. “Mas isso tudo se resume a uma única palavra: incerteza! O mundo está mais incerto”.

O especialista destaca que o processo de globalização fez com que as economias se interligassem.  O crescimento da internet e das redes sociais fez com que o mundo esteja mais interconectado, o que acontece em uma determinada região, em maior ou menor grau, afeta a nossa região quase que instantaneamente, argumenta o entrevistado. “Se falássemos disso nos anos 80, talvez parecesse um pouco de ciência e ficção. Hoje o mundo está caminhando para uma aldeia global fortemente interconectada. E por incrível que pareça, deixa tudo mais incerto.” completa.

Marcello atribui a incerteza à necessidade de as organizações  planejarem suas ações considerando múltiplos futuros. Nesse ambiente, “é muito arriscado pensar em um único futuro. Então você considera diversas possibilidades de futuros” 

O entrevistado cita como exemplo o fato de nenhum país ter se planejado para um momento de pandemia. “E você poderia me questionar, Marcello, a pandemia era possível de ser prevista?” E a resposta é: “Sim, já existiam cenários apontando uma possível pandemia para os próximos anos”, argumenta. O entrevistado destaca a necessidade de se basear nesses possíveis futuros para formulação da estratégia, sabendo de antemão que não existe um único futuro e que este não será uma continuidade do presente ou do passado. “Ele vai ser sempre múltiplo.”

Para diminuir o grau de incerteza dos tomadores de decisão das organizações, sejam elas públicas ou privadas, precisam se debruçar sobre esses possíveis futuros, formular estratégias e ter ações que as preparem para esse futuro múltiplo e incerto. “É como se eu ensaiasse o futuro antes dele acontecer. Quer dizer, se isso acontecer, o que eu faço? É fundamental possuir estratégias para eventos incertos e não depender mais dos gabinetes de crise.” Ele argumenta que um gabinete de crise não soluciona completamente os desafios gerados pela ocorrência de eventos incertos, somente busca mitigar os danos. Dano esse causado pelo fato de a organização não ter se preparado para aquele evento futuro.

Marcello argumenta que há muitos limites tecnológicos no apoio à aplicação de ferramentas ou métodos de prospectiva. As ferramentas disponíveis para apoio a esse processo não são intuitivas e ainda não há sistemas de Inteligência Artificial que consigam pensar no futuro. “Como o cérebro humano pensa, eu acho que nem existirá. Nós ainda precisamos da criatividade humana.” 

Segundo o entrevistado, esse processo de análise e reflexão humana voltado para se pensar em eventos que ainda não aconteceram e que, muitas vezes, nem tem sinais evidentes no passado, não é tarefa trivial, ainda mais para uma máquina construir. O que é percebido é o uso da tecnologia em atividades de projeção, como por exemplo econômicas e climáticas. Tais modelos têm avançado muito e estão a cada dia mais sofisticados conforme a tecnologia avança.

“Agora, para o que eu costumo chamar de perspectiva qualitativa, como os cenários, por exemplo, o fator humano é preponderante.” Marcello pondera que há alguns softwares disponíveis que apoiam as etapas de construção de estudos prospectivos, como por exemplo os que apoiam o método da escola francesa. Outro exemplo dado por ele são as plataformas em que se pode acessar e responder uma pesquisa Delphi. Apesar de ajudarem, Marcello vê a tecnologia como uma base para facilitar o processo e não para construir imagens sobre o futuro.

Assista a entrevista

Marcello José Pio é especialista em prospectiva do Observatório Nacional da Indústria e pesquisador sênior do Grupo de Pesquisa e Estudos Prospectivos da Universidade Católica de Brasília (NEP-UCB). O convidado foi entrevistado com o objetivo de tornar os estudos prospectivos mais visíveis e por meio de opinião, identificar a importância da construção dos cenários no processo de formulação de estratégias, como a tecnologia pode auxiliar esse trabalho e quais as ferramentas mais utilizadas.

Neste mesmo evento também foram entrevistados o Gerente de Gestão Estratégica da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos do Brasil, ApexBrasil, César Ciuffo, o Coronel da reserva do Exército Brasileiro, atuante na 7ª Subchefia do Estado-Maior do Exército, no Centro de Estudos Estratégicos como analista, Guilherme Otávio Godinho de Carvalho, a assessora chefe da DPU, Vanessa Barreto e o servidor público e bibliotecário Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea), Jhonathan Divino.

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